O Caio publicou no WebArte studio blog essa interessante entrevista com o Diego:

1 – Como você começou a trabalhar com internet? Você começou como freela por agencias?

Eu sou desenvolvedor client-side desde sempre. Comecei muito cedo na área, mas andei devagar. Comecei a brincar com tudo isso quando tinha 15 ou 16 de idade anos – algo em torno de 1995 -, ainda estava na quinta série primária. Lembro-me que escrevia código HTML nas folhas do meu caderno durante as aulas, para testar no computador quando chegasse em casa depois da aula. Fazia isso por diversão, mesmo que só fosse possível na época escrever HTML puro com quase nada de CSS. Praticamente fazia aquele código porco que você já deve ter escrito um dia, cheio de tags fonts e centers, com tabelas por todo o lado. Não sei por que eu gostava bastante de frames. Quando tudo funcionava bem, achava fantástico. Era engraçado porque eu não fazia nada de útil. Apenas escrevia códigos HTML para ver o que acontecia e nada mais. Eu não sabia, mas essa brincadeira, a cada dia que passava, ficava mais séria.

2 – Quando teve a idéia de criar a visie? Você viu alguma necessidade que empresas do ramo não cobriam?

Eu trabalhava em uma empresa chamada Atípico. A empresa era pequena, mas tinha uma ideia muito diferente do mercado de internet. Realmente éramos diferente de tudo o que eu já conhecia de web e outras empresas. Fiquei um tempo lá, algo em torno de 4 anos e resolvi sair para tentar outras possibilidades. O Elcio Ferreira, meu amigo desde infância, era sócio da Atípico quando em dado momento também resolveu sair de lá. Quase que ao mesmo tempo que eu. Conversamos e o Elcio perguntou se não queria criar uma empresa. Eu topei.

Começamos com treinamentos e consultoria. Nós dois fazíamos isso muito bem e as empresas precisavam de alguém para indicar o caminho correto no Tableless, Javascript e melhores práticas. Muitas empresas, grandes empresas, estavam perdidas com as novas técnicas do mercado e nós iniciamos todo esse processo de capacitar os profissionais dessas empresas.

Já treinamos muitas boas empresas como Globo.com, HSBC, Senac, Terra, UOL…
Com aula particular, já treinamos membros da Globo.com, iG, Itaú, Rede TV, Yahoo, Google e outros…

Depois de um tempo resolvemos fazer também desenvolvimento de sistemas, já que em grande parte das vezes o treinamento gerava oportunidades para ajudarmos as empresas a melhorarmos seus produtos e serviços. A partir daí só crescemos.

3 – Quando começou a visie? E quais foram as dificuldades encontradas para a solidificação de uma empresa para serviços web?

Começamos a Visie na nossa sala de casa. O Elcio na casa dele e eu na minha. Não tínhamos sede e como começamos com treinamento ficou fácil porque ao fazer os cursos, nós podíamos alugar salas equipadas, então não precisávamos de sede.

Não ter uma sede era um problema, porque a partir do momento que empresas grandes nos contactavam, precisávamos fazer reuniões ou coisas do tipo, e não tínhamos como fazer isso. Juntando esse problema com os gastos que tínhamos ao alugar as salas para treinamento, resolvemos procurar uma sala e fazermos um lugar para que pudéssemos trabalhar e também fazer os cursos.

Como não recebemos nenhum aporte financeiro, o começo foi bem amador mesmo. Com o dinheiro dos primeiros cursos conseguimos comprar alguns computadores. Fizemos uma permuta com uma loja de móveis para escritório para conseguir cadeiras e mesas.

Hoje em dia temos por volta de 15 funcionários. Queremos ser pequenos de propósito. Somos mais ágeis assim. Empresas como a Accenture nos procuram para ter agilidade na criação de código server-side e client-side. Somos rápidos e temos alto padrão de qualidade. É difícil encontrar isso no mercado hoje em dia.

4 – Você acha que o Brasil ainda é meio atrasado em questão de noção por parte de certas empresas de pequeno porte  em estar na internet? Várias delas ainda pensam em ter sites básicos do tipo: “home, quem somos, serviços e contatos”, e outras acham que um site não serve pra nada. Com a Visie você enfrentou esse tipo problema?

Nós sempre tivemos uma margem de corte. Nós trabalhamos já durante muito tempo com empresas pequenas. Mas notamos que essas pequenas empresas davam tanto ou mais trabalho que empresas maiores.
Você vai encontrar as mesmas dificuldades ao criar um site ou sistemas em empresas pequenas ou grandes. A única diferença entre as duas é que na empresa grande temos mais burocracia.

Ter burocracia não é ruim. Pelo contrário, é necessário. Quando você funda uma empresa desde o início sabe que a burocracia serve para organizar e projetar fluxos. O excesso de burocracia é que dificulta as coisas. É por isso que o Scrum exige que o cliente eleja um PO (Product Owner). Que é o cara que tem toda autonomia de decisão sobre o projeto. Assim não temos que caçar os responsáveis, colher informações e opiniões de cada um, para depois marcar uma reunião para saber se todos estão falando a mesma coisa.
Esse tipo de dificuldade não temos em empresas pequenas. Na maioria das vezes falamos com o dono da empresa ou com alguém próximo. Isso facilita as coisas. Entretanto temos que lidar com o “gosto pessoal” do dono, que muitas vezes é o contrário do seu gosto.

Hoje o mercado está muito mais maduro. Mas há muito que percorrer ainda. Todas as empresas hoje querem ter um perfil no Facebook, mas a maioria delas não sabe o que fazer com isso. Querem atender seus clientes pelo Twitter, mas não sabem como utilizar da melhor forma.
De uma hora para outra todo mundo quis ser “cool”. Mas isso não dá certo.

5 – E o Tableless? Como surgiu a idéia cria-lo?

Eu ainda estava na Atípico quando tive a ideia de fazer o Tableless. Eu estava aprofundando os estudos em CSS e HTML. Queria fazer sites da melhor forma possível, com menos trabalho e com maior efetividade. Minha única opção era estudar muito na época. O problema é que não havia conteúdo em português sobre esse assunto. Era muito difícil encontrar alguém falando algo de CSS. Eu participava de duas ou três listas de discussão sobre o assunto, mas isso não era o suficiente. Minhas fontes eram principalmente gringas.

Notei que eu podia juntar o útil ao agradável: quis fazer um site que ensinasse de verdade como fazer sites com CSS e provar que dava certo. E também criar um site em português sobre o assunto, com muito conteúdo didático para que os desenvolvedores pudessem estudar e aprender o assunto.
Tendo isso em mente criei o Tableless. O nome é polêmico como tudo mundo já sabe. Mas naquela época fazia muito sentido.
A principal missão do Tableless era evangelizar os desenvolvedores aqui no Brasil. Todos eles achavam que fazer sites sem tabela, utilizando apenas CSS era impossível e se conseguíssemos fazer, era muito custoso para manter. Eu quis provar o contrário e comecei o Tableless.com.br criando uma área chamada CONVERTIDOS. Existe até hoje, pode ser vista aqui (http://tableless.com.br/convertidos/). Funcionava assim: eu convertia a para Tableless a home de sites grandes. Logo, refiz o código da home de uma dezena de sites e publiquei no site como estudo para os visitantes, tentando provar que era possível fazer QUALQUER site, sem cara de blog, com CSS e sem tabelas para estrutura.

A partir daí o site se tornou referência e continuei com ele desde então. Hoje temos pelo menos 5 articulistas e 2 publishers que geram conteúdo e buscam links interessantes para postar no nosso twitter.

6 – Agora vamos façar um pouco de tecnologia. Hoje em dia com a grande diversidade de softwares de gerenciamento (cms), qual na sua opnião é o melhor? e por quê?

Na minha opinião, sem pestanejar, o melhor é o WordPress. Nenhum outro CMS free é tão robusto quanto ele. Ele é simples de entender e gerenciar. Qualquer desenvolvedor ou designer consegue fazer um site com ele em questão de horas. É realmente muito simples e muito prático.

Existem outros bons CMS, pagos, que podem bater o WordPress em alguns pontos, como por exemplo o Umbraco. Há outros, como o Vignette que nem deveriam existir. Mas se você quer começar a fazer sites utilizando CMS, utilize WordPress.

7 – Sobre o html 5. Você acha que os novos padrões serem feitos por quem realmente precisa e utiliza uma boa idéia? Qual os problemas mais comuns encontrados quando esses padrões são ditados por grandes empresas?

O HTML5 foi mais uma prova de que quem manda no mercado são os desenvolvedores. Isso já foi provado quando o Web Standards Project mudou todo o processo de criação de websites, convencendo os desenvolvedores a fazer sites sem tabelas para estrutura. Isso aconteceu faz uns 8 ou 9 anos. Hoje o HTML5 fez a mesma coisa. Ele foi iniciado por um grupo de desenvolvedores – muitos deles ligados aos browsers Opera, Mozilla e Safari – que não estavam felizes com o rumo que o W3C planejava com o XHTML. Por isso resolveram criar uma linguagem que resolvesse os problemas que os desenvolvedores tinham HOJE.
O W3C pensa muito no amanhã. Mas temos problemas de desenvolvimento que precisamos resolver hoje.

Imagina termos que esperar anos para fazer bordas arredondadas ou fazer drag’n’drop em nosso site ainda utilizando gambiarras de javascript? Como poderíamos ter WebApps que realmente substituam os Apps offline? Isso seria apenas algo para daqui anos ou talvez nunca. Esse pessoal se adiantou e começou essa revolução pelas trincheiras. Hoje podemos fazer isso tudo e mais um pouco. Graças a todo esse projeto e adoção pelos browsers e desenvolvedores, o W3C resolveu também aderir ao movimento e por isso estamos hoje com um mercado mais maduro e consistente.

8 – A Adobe lançou a poucos dias o Wallaby, que converte arquivos em flash para html5.  Mesmo assim Steve Jobs insiste em não dar suporte para flash em seus dispositivos. Você acha que mesmo a Apple não sendo lider de mercado ela dita alguma regras em relação ao desenvolvimento para a web? Um desenvolvedor deve se preocupar com esse tipo de problema?

Eu acho que a decisão da Apple foi boa mas que não precisa ser mantida por muito tempo. Qual é esse tempo? Tempo suficiente para que os desenvolvedores aprenda e entendam todas as possibilidades do HTML5 e CSS3. Assim a adoção dessas linguagens será maior e mais efetiva. Quando todo o esse processo for completo e os desenvolvedores entenderem que HTML5 e CSS3 são tão interessantes (eu acho mais interessante) quanto o Flash, eles podem mudar de ideia e liberar o flash para seus dispositivos.

Mas entendam que o HTML5/CSS3 não tomará o lugar do Flash. Eles serão uma outra opção! O HTML5/CSS3 tem vantagens que o Flash não tem como por exemplo a facilidade de atualização e manutenção. A portabilidade entre meios de acesso também conta.
Tecnologias como HTML5/CSS3 são web ready. O Flash, embora esteja no mercado a anos, não tem a essência da web. Se tivesse, seria imbatível.

9 – Muitas pessoas na internet fazem previsões de como será o futuro dela.”O fim do e-mail”, “Redes sociais”, “Interação entre pessoas” e etc. O que você prevê para o futuro virtual? A internet ainda tem possibiladades de mais uma mega revolução na vida das pessoas?

A internet é um campo ilimitado. Sempre haverão novidades. Sempre haverão redes sociais. E para mim o e-mail não vai morrer. Ele vai evoluir, mas morrer não.

Acho que os desenvolvedores devem mudar seus pensamentos. Nós não vamos escrever CSS para sempre. Não vamos escrever HTML para sempre. Pelo menos não do jeito que estamos acostumados. Até ontem não existia Tablets, smartphones e coisas do tipo. Todo mundo acessava a internet com uma resolução de 800×600 no máximo!

A web acabou de começar.

10 – Nas redes sociais nós vemos que elas são ótimas ferramentas de divulgação e que grandes empresas estão investindo muito nesse tipo de marketing. O twitter nos mostra isso claramente, mas apesar disso ele não vêm mostrando grandes novidades. Você acha que o Twitter ainda vai nos surpreender ou vai ser para sempre aquilo mesmo?

Quem surpreende não é o Twitter, mas sim o seu público. Quando o Twitter foi criado até mesmo o @ev sabia como isso ia caminhar. Era para seus amigos escreverem o que estavam fazendo. Hoje ninguém faz isso, todo mundo posta suas opiniões. Então não é o Twitter que surpreende, mas é a forma que seu público o utiliza. Imagine que o Twitter é como se fosse uma ferramenta multiuso. Podemos agregá-lo a quase que qualquer produto.